segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Tardio.



Já vem tarde. 
Porque demorou tanto? Onde estavas? Porque não me impactou antes com tanto tato, amor, frescor e vida? Atrás de que muro se escondeu que não esbarrou em mim com todo o seu brilho? Quantos anos nascestes atrasada tornando impossível que nossos caminhos se cruzassem? Onde você esteve, Mulher? 
Minha garganta estava sempre seca - e eu achava que gargantas secas eram normais. Seco é bom, não é?
Quando o líquido das suas palavras me foi despejado guela abaixo não pude acreditar que seco era o estado que jamais deveria ter sido. 
Eu nunca devia ter sido seco na vida, e quando molhado por tua formosura deslisei pelos dias e semanas, me senti estranhamente cheio de vida, cheio de você. Eu fluía, eu era eu. Eu era seu.
Porquê não te conheci antes?
Agora não posso ter-te. Preciso continuar por onde estou, há obrigações a honrar, há uma vida a viver, eu preciso cumprir o que me foi determinado. 
Te coloco no patamar de aventura, te congelo, te expulso, te rejeito, te esqueço. Te lanço pra bem longe, e pigarreio. Garganta seca. 

Já vai tarde.
As coisas acontecem no exato tempo em que precisam acontecer. Não haveria um ano a mais ou a menos, um segundo a mais ou a menos para que tudo fosse como foi, e me marcasse como marcou.
Se paro pra pensar admito que todas as coisas que vivi foram determinantes para que eu conseguisse te enxergar. Todos os caminhos que andei me levaram ao homem que é um menino e que é amado, muito amado.
Vim tarde, vim quando muros de concreto e ferro estavam erguidos, vim quando havia solidão, vim quando não haveria como não descobrirmos um no outro o encaixe de nossas almas, vim quando nos conectamos mentalmente. 
Vim tarde, nas noites despertas de hora em hora, nos sonhos reais, na intensa e inesgotável fome que sentimos de estar, de ser, de viver, de amar.
Vim tarde e tarde era a nossa hora.
Tarde é a hora do nosso amor, e se vamos vivê-lo preciso que limpes a garganta, deixe de secura e me permita fluir pra dentro de ti. 
Se acaso vamos esquece-lo, quero que saibas que todo esse esquecimento não passa de falácia: parece que é verdadeiro, mas no fundo não é. 
Tardio, e eterno, seco nunca mais.

















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