Sobre o câncer:
Você está aqui 01:00 da manhã sentada no sofá com sua avó, manta sobre os joelhos, ela perdeu o sono; E ela quer jogar conversa fora.
Você vê essa pessoa diante dos seus olhos e por antecipação já sente sua falta excruciante martelar o peito. E apesar do corpo cada vez mais sofrido a mente vivaz permanece inquieta e cheia das próprias idéias, opiniões, cheia de vida.
O motivo dela não dormir tanto mais, o motivo de rompantes de irritação, o motivo de estar tão magra, o motivo de tantas mudanças e também de tantas emoções por antecipação em todos nós é também a razão principal e central de todos os seus medos. O maior medo por ter câncer é porque a pior coisa de ter câncer é que o câncer dói.
Ele dói no corpo, na alma, e nos corações de quem assiste a própria vida esvair-se e de quem todos os dias se despede um pouco mais.
O câncer dói. E a única forma de acabar com essa dor é também gerando uma ainda mais profunda. O câncer dói de dentro pra fora, e quando chega à superfície, rompe o corpo em que habita e espalha sua dor, ainda que seu abrigo esteja sem motivos mais pra tanto doer, à sete palmos do chão. "A pior coisa do câncer é que ele dói, minha filha..."
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