sábado, 18 de janeiro de 2014

Sobre a intensidade que mora em mim.

Intenso


adj. Que tem muita força: calor intenso.

Considerável: atividade intensa.
Veemente, forte.


Até hoje só pude desenvolver a habilidade de controlar o que demonstro, não o que existe dentro de mim. Do lado de cá tudo que eu vejo, sinto, penso, trazem consigo doses cavalares de intensidade. Para algumas pessoas isso poderia sugerir um fardo, ou exagero; pra mim, entretanto, é a única maneira que eu já enxerguei a vida.
Se estou feliz sou ainda mais gentil com as pessoas. Sinto uma onda de ternura percorrer todos os meus gestos. Canto e assobio muito. Sorrio sozinha, fico agitada, radiante, atômica, falante, disponível.
Se me apaixono, me entrego. Dou o meu melhor, e mesmo com ressalvas ou medos procuro passar com veemência a minha admiração, o meu afeto, o meu desejo. Minhas antenas ficam todas sensíveis e eu capto detalhes que nem tenho a intenção de captar, fazendo o alvo da minha paixão se sentir único e especial neste mundo. 
Quando amo, deixo de pensar só em mim. Penso no outro como extensão de quem eu sou e procuro ter todas as atitudes que mais demonstrem consideração, parceria e respeito.
Quando me preocupo, focalizo quinze facetas diferentes do problema, sofro por antecipação, penso em soluções e meu rosto informa a qualquer pessoa que me conheça o mínimo possível de que eu estou preocupada.  
Consigo estar feliz, apaixonada e preocupada ao mesmo tempo, de que maneira eu não sei.
Quando fico triste sou absorvida por mim mesma. Me fecho numa concha dura, apertada e sufocante. Choro muito. Não como absolutamente nada. Emagreço na velocidade da luz. Durmo o máximo que é possível e levanto-me quando é estritamente necessário. 
Mesmo expansiva, nessas horas não consigo passar para as pessoas a dimensão do que me ocorre, então prefiro não ver ou falar com ninguém. No passado, eu falava muito do que me causava aflição. Hoje ainda falo, mas pra mim mesma.
Não sei se todas as pessoas desse mundo já ficaram tristes várias vezes, mas eu sei que fiquei o bastante para já ter aprendido a lidar um pouco com isso. Não consigo conter a intensidade, mas hoje sei senti-la.  
Aprendi que não vale a pena fugir e que sou absolutamente incapaz de fingir. Não vou fingir estar bem até estar, não vou fingir que quero socializar quando não quero.  Sou franca comigo e com os outros, prefiro evitar qualquer engano. Também aprendi a desmentir comentários próprios que me depreciem. Percebi que adoro me culpar pela tristeza e que isso só me deixa pior. Então estranhamente desenvolvi a habilidade de sentir certo contentamento de colher as consequências dos meus atos, como se esta fosse uma evidência de crescimento, vida e evolução. E caso eu não possua culpa alguma, aprendi a aceitar que certas dores são inevitáveis, e que poupa tempo não questionar. 
Me trato com carinho e me aceito na hora que mais quero açoitar-me. Já dói o suficiente. Quando o desespero vêm, eu o deixo vir. Não tento tapar nada com peneira alguma. Eu mesma me acho louca por colocar um pano na boca e gritar até rasgar meus pulmões; de chorar até inchar tudo, mas acredite: eu devo isso a mim mesma, guardar o meu pranto um dia pode até me causar câncer, ou úlceras, vai saber. Melhor é nem arriscar.
Então mee exponho à coisas que me causam dor. Como ouvir músicas que me lembrem, até que elas não agitem tanto as minhas vísceras. Ver filmes que me entristeçam, até que eles parem de causar tanto pavor na minha alma. O que qualquer pessoa comum pode chamar de masoquismo eu encaro como o meu jeito de sobreviver à coisas que poderiam destruir a minha essência que tanto amo. Já vi a dor destruir tudo que há de bom nas pessoas, e não desejo isso pra mim.
Eu permito ao meu cérebro reviver tudo. É dilacerador, porque se durmo sonho com isso, acordada tenho náuseas e me lembro de detalhes que deixei passar, sinto saudades que não queria sentir e desconstruo bons momentos no intuito de torna-los menos significativos. É quando os pontos falhos passam a piscar.
Comentários incertos, olhares furtivos, explicações vazias, o meu instinto sempre revolto e lá estão todas as evidências que eu não quis ver. O lado mais explorado de tudo me mostra ao redor de quê orbitavam as coisas e me deixo sentir tola por instantes. É sempre o físico. Quando não recebo a consideração que sempre ofertei sinto a revolta e a decepção. Penso em todas as palavras que falei com sinceridade e todas que me foram ditas e não sustentadas. Preferia nunca tê-las escutado em vez de ter que torna-las mentiras e futilidades aos meus ouvidos. Observo mais uma vez que a grande parcela das pessoas pensa primeiro, segundo e terceiro em si mesmas, depois no outro. Não perco mais meu tempo chateada com isso. Busco apenas me defender.
Muitas pessoas gastam energia demais tentando esquecer, desejosas de uma amnésia seletiva; já engoli o fel de que isso não é possível. 
Aquilo que nos feriu sangra, incomoda, necrosa, machuca, sara, mas deixa marcas e muitas vezes dores psicológicas - feito aquelas que pessoas amputadas sentem em seus membros fantasmas. Cicatrizes não se apagam. Não as esqueceremos jamais.
Acredito que não há dor que doa o tempo todo, ou que esteja em evidência para sempre; que podemos nos acostumar à dor, e que há tempo de sorrir e tempo de gritar com um pano na boca.
Se tristeza é o que eu sinto agora, vou senti-la enquanto ela canta pra mim:
"I wanna put my hands around you, squeeze you and hold you tight. I wanna stroke you with my fingers...." "...I wanna touch you right here, come on and touch me right there. I wanna 
squeeze you baby, oh you know all I wanna do to you! Embraceable you u u ..."

Eu venho aprendendo que intensidade é para os corajosos. 
Ou estúpidos insanos, who knows???









Nenhum comentário:

Postar um comentário