O otimismo do amor me permite acreditar que a sua ausência fragmentada é uma possibilidade amável e provisória de tê-la continuamente presente em vários lugares: ao mesmo tempo:
- aqui, por exemplo. (sua voz balbucia de algum lugar que não existe, imagino eu)
E assim… Procuro, louco, catar um pouco do que você me oferece inocentemente todos os dias.
Ora,
seguro as suas mãos frias e peço que me levem para o lugar mais distante e quente do mundo:
seus olhos quando miram um ponto de fuga. Corra!
Ora,
encontro os seus lábios grossos e tento penetrá-los com minha boca, com meu sexo, com meus poemas. Porra!
(desculpa!)
poesia é fuga de quem foge de cima de si
e na fuga deixa escapar
as palavras mais doídas, mais moídas, mais bonitas…
Ora,
esbarro com as suas verdades, e elas me confundem e elas se fundem neste cenário tão incoerente quanto indecifrável que é o coração de quem ama. Bata!
Ora,
vejo as horas apenas passarem, (que oração?)
sem querer debater com o tempo por que ele ainda vive com mania de me privar da sua companhia. Suma!
Ora,
encosto a palma da minha pluma na pele macia das suas costas tatuadas: tento decifrar o que as palavras ali escritas tentam não-dizer: e dizem tanto: e nada digo: e logo escrevo com a tinta invisível da saudade: outrora a gente junta todas as nossas all-sências.
Mas onde?
- aqui, por exemplo. (sua voz balbucia novamente de algum lugar que continua não existindo, imagino eu continuamente)
Às vezes, soluço
Às vezes, só ouço
a sua voz só,
entrecortada,
seguida de um silêncio inter-
-calado.
E só.
Ela me faz bem. Ele me conforta.
Os dois declaram a sua ausência fragmentada. Tolos!
Sua ausência é inteiramente completa.
Quem está aos pedaços é o que fomos.
Estamos hospedados um no vazio do outro.
outrora
a gente se junta e se completa
feito ausência fragmenta;
i
n
t
e
i
r
o
s,
pour toujours.
[fragmentos de ausência; antônio]
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