quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cornerstone


Tell me where's your hiding place
I'm worried I'll forget your face
And I've asked everyone
I'm beginning to think I imagined you all along


I am hurt. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O átomo da saudade

Você olha pra um lado, e pro outro. Se bobiarem você perde uns bons longos minutos parado, olhando pro nada. Esquece-se das pessoas ao redor. Suspira. Tenta descobrir a origem do desconforto - se estômago ou coração, ou talvez seja nas costas - e de novo, olha pros dois lados. Suspira. A cabeça dói. Tensão nas têmporas.Tem algo dentro de você.
É tudo muito confuso e por breves instantes você quase se esquece, as vezes parece até que não dói,  embora também não deixe de existir, está ali, ocupando bastante espaço. É pesado. É muito pesado.
Tem hora que te acorda à noite, agitando-se dentro de ti. Em outros momentos captura sua imaginação e te leva pra longe para degustar realidades que gostaria de viver e que sabe que viveria, bastava o cenário adequado. Outrora te engana e volta a doer, e dói direitinho. Sabe tirar sua fome, seu sono ou a risada que você ia dar mas desistiu; é que sorrir também parece ilegítimo, forjado, perde a graça sorrir quando se está tão fadigado.
Tu olhas pra baixo, coloca a mão no peito e aperta. Engole em seco. Sem sombra de dúvidas o coração acelera só de pensar em mais um dia com aquilo, mas aquilo - isto - oque????  

Você dá um sorrisinho e conclui: Dalton estava certo esse tempo todo. 
Aquilo que ocupa teu peito é um grande átomo maciço, indivisível, indestrutível e permanente. 
Esse incômodo no teu peito é saudade. Esse peso, essa angústia, essa tua ansiedade, a pressa de ter algum alívio, é a urgência dessa esfera maciça e gorda por atenção.
Do que sentes falta, criatura? Pelo o quê teu peito reclama tanto? 
Tu achas que matas de fome aquilo que é alimentado justamente pela ausência? Como combater o que nunca dorme em teu estômago? As imagens que não cessam em sua memória, ou o sentimento que não desaparece em seu coração? 
Desde quando fingir que não existe é esquecer e não falar sobre é não pensar? Desde quando é suficiente ser mais ou menos entendido e quase satisfeito? A partir de que momento tudo passou a ser nada, e matade virou inteiro?

A gente sente saudade daquilo que experimentou o suficiente pra querer sempre mais, pra querer tudo e o tempo todo.
A saudade é maciça, quase palpável.
A saudade é indivisível, tu a sente inteira.
A saudade é indestrutível, só some saciada.
A saudade é permanente, do tamanho da ausência daquele que amamos.
Todos os dias viraram dias mundiais da saudade, maciça, permanente, indestrutível.

Dalton estava certo esse tempo todo.






quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Singularidades

Música pra ouvir enquanto lê (obrigatório)


               A maneira de olhar e franzir as sobrancelhas. A cor desses olhos que te olham. O jeito de andar. O som do sorriso, o jeito que as covinhas se formam, os dentes e o formato da boca. O vício de morder os lábios, ou "cabucar-se". 
               O cheiro do perfume na pele, o cheiro do suor dessa pele e o cheiro da respiração - SIM, sai um aroma único de nossos narizes. Os lugares em que sente cócegas ou prazer. As posições em que dorme, o ritual do banho, o ritual para escovar os dentes. As pequenas implicâncias.
A voz. Essa voz quando brinca, quando chora, quando seduz, quando se declara, quando vai partir o seu coração. O gosto do beijo, a textura da língua e dos lábios. As mordidas que dá quando te beija. A maneira que te toca, e a forma como seu corpo reage à isso. A forma como te massageia as têmporas e busca aliviar suas tensões. O jeito que opta por uma escada de incêndio. 
               A conversa íntima entre ferormônios e a química inexplicável. Os sonhos que possui, os gostos por música, por filmes ou artes. As coisas que acha engraçadas. As manias únicas, os detalhes e cicatrizes. A forma como entende o mundo e se faz ser entendido por ele. O jeito que dirige, que segura o volante, ou que recosta a cabeça no banco para ouvir música. As mãos, os caminhos que essas mãos fazem e o proteção que podem fazer sentir. O abraço.
              O modo como te trata, te enxerga, te sente, te ama. Os defeitos que releva, que aceita ou que nem vê. As qualidades que exalta, que aprecia e outras mais que ninguém mais notou, só você. A maneira como abraça o seu coração e o leva a boiar no peito, te faz flutuar na vida, desafiando qualquer gravidade e te colocando no espaço - o espaço de vocês - a bolha
              A expressão quando se preocupa, quando sente medo, quando te quer, quando vai te deixar. O senso de humor, a inteligência, a sagacidade. O jeito quieto ou insano. Aventureiro ou sossegado. O jeito que passa brigadeiro no nariz ou trupica mas não cai na calçada. A entrega, a força, o companheirismo, o apoio, o detalhismo. O amor que oferece, o carinho que doa, os ouvidos que disponibiliza. As chuvas que não se preocupa em tomar. O jeito que faz você se sentir melhor, mais, incrível.
              Ah! Os seres humanos, a vida, as nossas experiências! Quem dera pudéssemos compactar tudo e arquivar, ou encontrar disponível em prateleiras compostos que adicionassem coisas que amamos nas pessoas que convivemos. Utopia! Besteira! 
              Cada pessoa é absolutamente única. Não podemos copiar os trejeitos de ninguém, ou projetar uma pessoa em outra. É impossível substituir, repor, compensar.  E ainda que duas pessoas - sei lá - lambam o prato exatamente da mesma maneira, isso ainda será totalmente diferente aos olhos do mesmo expectador. Não existe o melhor e o pior, existe o jeito singular e próprio de cada um, o mesmo que nos encanta, nos apaixona, nos enfurece ou nos desperta. Ninguém é comparável a ninguém, e não podemos apagar as marcas que as maneiras de alguém imprimem em nossa mente, nos corredores da nossa memória, nos lugares secretos do nosso coração.
               E no fim das contas, você é, você quer e você ama aquilo e aquele(a) de quem você se lembra antes de dormir. 
Jéssica Almeida.









Só eu.

Será que só em mim impera a saudade? Será que só eu demoro a pegar no sono a noite sentindo que dormiria tão melhor enrolada em ti? Só no meu rosto escorrem lágrimas quentes e apenas em meu peito martela um coração que quis e ainda quer tanto ser seu?
Quantas águas geladas tomarei sem doer meu estômago? Preferia quando elas me afogavam, saindo pelo nariz e me matando de rir.
Só eu te procuro nas ruas, nos restaurantes, na minha memória? E ao mesmo tempo engulo em seco com medo de esbarrar contigo?
Só eu tenho diversas expressões suas guardadas e impressas no fundo dos meus olhos? Só eu sinto medo de que elas se apaguem com o tempo?
De todas as coisas boas que eu poderia sentir falta, o diálogo reina. Sou a única que não acha fácil assim me abrir pras outras pessoas como era me abrir pra você? Sou a única que sente saudades da sua voz e de contar como foi o meu dia?
O cheiro. Só eu estou sedenta por ele?
Eu sou a que sente saudades do que nunca vivi, da viagem que não aconteceu, dos lugares que não fomos, do cotidiano que não vivemos, do bem que eu quis tanto e não pude te fazer, de todos os anos da minha vida que quis te dar;  só eu sinto isso?
Coube só a mim acordar injuriada porque nem eu meus sonhos você deixou de aparecer?
Qual o propósito de conhecer a pessoa mais incrível da sua vida se você não pode estar com ela?

A saudade, o sofrimento e o medo, os sentimentos mais solitários que existem.
E eu? Eu estou profundamente só.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ausências

O otimismo do amor me permite acreditar que a sua ausência fragmentada é uma possibilidade amável e provisória de tê-la continuamente presente em vários lugares: ao mesmo tempo:

- aqui, por exemplo. (sua voz balbucia de algum lugar que não existe, imagino eu)

E assim… Procuro, louco, catar um pouco do que você me oferece inocentemente todos os dias.

Ora,
seguro as suas mãos frias e peço que me levem para o lugar mais distante e quente do mundo:

seus olhos quando miram um ponto de fuga. Corra!

Ora,
encontro os seus lábios grossos e tento penetrá-los com minha boca, com meu sexo, com meus poemas. Porra!

(desculpa!)

poesia é fuga de quem foge de cima de si
e na fuga deixa escapar
as palavras mais doídas, mais moídas, mais bonitas…

Ora,
esbarro com as suas verdades, e elas me confundem e elas se fundem neste cenário tão incoerente quanto indecifrável que é o coração de quem ama. Bata!

Ora,
vejo as horas apenas passarem, (que oração?)
sem querer debater com o tempo por que ele ainda vive com mania de me privar da sua companhia. Suma!

Ora,
encosto a palma da minha pluma na pele macia das suas costas tatuadas: tento decifrar o que as palavras ali escritas tentam não-dizer: e dizem tanto: e nada digo: e logo escrevo com a tinta invisível da saudade: outrora a gente junta todas as nossas all-sências.

Mas onde?

- aqui, por exemplo. (sua voz balbucia novamente de algum lugar que continua não existindo, imagino eu continuamente)

Às vezes, soluço

Às vezes, só ouço

a sua voz só,
entrecortada,
seguida de um silêncio inter-
-calado.
E só.

Ela me faz bem. Ele me conforta.
Os dois declaram a sua ausência fragmentada. Tolos!
Sua ausência é inteiramente completa.
Quem está aos pedaços é o que fomos.
Estamos hospedados um no vazio do outro.

outrora
a gente se junta e se completa
feito ausência fragmenta;
i
n
t
e
i
r
o

s,
pour toujours.

[fragmentos de ausência; antônio]

sábado, 18 de janeiro de 2014

Quit

When someone gives up on you the only way to quit too, is feeling all the pain that's possible. 
So, if you're lucky, you end up giving up too. 
If you you are unluck, prepare yourself to live with it. 
I never knew how to quit ...

Sobre a intensidade que mora em mim.

Intenso


adj. Que tem muita força: calor intenso.

Considerável: atividade intensa.
Veemente, forte.


Até hoje só pude desenvolver a habilidade de controlar o que demonstro, não o que existe dentro de mim. Do lado de cá tudo que eu vejo, sinto, penso, trazem consigo doses cavalares de intensidade. Para algumas pessoas isso poderia sugerir um fardo, ou exagero; pra mim, entretanto, é a única maneira que eu já enxerguei a vida.
Se estou feliz sou ainda mais gentil com as pessoas. Sinto uma onda de ternura percorrer todos os meus gestos. Canto e assobio muito. Sorrio sozinha, fico agitada, radiante, atômica, falante, disponível.
Se me apaixono, me entrego. Dou o meu melhor, e mesmo com ressalvas ou medos procuro passar com veemência a minha admiração, o meu afeto, o meu desejo. Minhas antenas ficam todas sensíveis e eu capto detalhes que nem tenho a intenção de captar, fazendo o alvo da minha paixão se sentir único e especial neste mundo. 
Quando amo, deixo de pensar só em mim. Penso no outro como extensão de quem eu sou e procuro ter todas as atitudes que mais demonstrem consideração, parceria e respeito.
Quando me preocupo, focalizo quinze facetas diferentes do problema, sofro por antecipação, penso em soluções e meu rosto informa a qualquer pessoa que me conheça o mínimo possível de que eu estou preocupada.  
Consigo estar feliz, apaixonada e preocupada ao mesmo tempo, de que maneira eu não sei.
Quando fico triste sou absorvida por mim mesma. Me fecho numa concha dura, apertada e sufocante. Choro muito. Não como absolutamente nada. Emagreço na velocidade da luz. Durmo o máximo que é possível e levanto-me quando é estritamente necessário. 
Mesmo expansiva, nessas horas não consigo passar para as pessoas a dimensão do que me ocorre, então prefiro não ver ou falar com ninguém. No passado, eu falava muito do que me causava aflição. Hoje ainda falo, mas pra mim mesma.
Não sei se todas as pessoas desse mundo já ficaram tristes várias vezes, mas eu sei que fiquei o bastante para já ter aprendido a lidar um pouco com isso. Não consigo conter a intensidade, mas hoje sei senti-la.  
Aprendi que não vale a pena fugir e que sou absolutamente incapaz de fingir. Não vou fingir estar bem até estar, não vou fingir que quero socializar quando não quero.  Sou franca comigo e com os outros, prefiro evitar qualquer engano. Também aprendi a desmentir comentários próprios que me depreciem. Percebi que adoro me culpar pela tristeza e que isso só me deixa pior. Então estranhamente desenvolvi a habilidade de sentir certo contentamento de colher as consequências dos meus atos, como se esta fosse uma evidência de crescimento, vida e evolução. E caso eu não possua culpa alguma, aprendi a aceitar que certas dores são inevitáveis, e que poupa tempo não questionar. 
Me trato com carinho e me aceito na hora que mais quero açoitar-me. Já dói o suficiente. Quando o desespero vêm, eu o deixo vir. Não tento tapar nada com peneira alguma. Eu mesma me acho louca por colocar um pano na boca e gritar até rasgar meus pulmões; de chorar até inchar tudo, mas acredite: eu devo isso a mim mesma, guardar o meu pranto um dia pode até me causar câncer, ou úlceras, vai saber. Melhor é nem arriscar.
Então mee exponho à coisas que me causam dor. Como ouvir músicas que me lembrem, até que elas não agitem tanto as minhas vísceras. Ver filmes que me entristeçam, até que eles parem de causar tanto pavor na minha alma. O que qualquer pessoa comum pode chamar de masoquismo eu encaro como o meu jeito de sobreviver à coisas que poderiam destruir a minha essência que tanto amo. Já vi a dor destruir tudo que há de bom nas pessoas, e não desejo isso pra mim.
Eu permito ao meu cérebro reviver tudo. É dilacerador, porque se durmo sonho com isso, acordada tenho náuseas e me lembro de detalhes que deixei passar, sinto saudades que não queria sentir e desconstruo bons momentos no intuito de torna-los menos significativos. É quando os pontos falhos passam a piscar.
Comentários incertos, olhares furtivos, explicações vazias, o meu instinto sempre revolto e lá estão todas as evidências que eu não quis ver. O lado mais explorado de tudo me mostra ao redor de quê orbitavam as coisas e me deixo sentir tola por instantes. É sempre o físico. Quando não recebo a consideração que sempre ofertei sinto a revolta e a decepção. Penso em todas as palavras que falei com sinceridade e todas que me foram ditas e não sustentadas. Preferia nunca tê-las escutado em vez de ter que torna-las mentiras e futilidades aos meus ouvidos. Observo mais uma vez que a grande parcela das pessoas pensa primeiro, segundo e terceiro em si mesmas, depois no outro. Não perco mais meu tempo chateada com isso. Busco apenas me defender.
Muitas pessoas gastam energia demais tentando esquecer, desejosas de uma amnésia seletiva; já engoli o fel de que isso não é possível. 
Aquilo que nos feriu sangra, incomoda, necrosa, machuca, sara, mas deixa marcas e muitas vezes dores psicológicas - feito aquelas que pessoas amputadas sentem em seus membros fantasmas. Cicatrizes não se apagam. Não as esqueceremos jamais.
Acredito que não há dor que doa o tempo todo, ou que esteja em evidência para sempre; que podemos nos acostumar à dor, e que há tempo de sorrir e tempo de gritar com um pano na boca.
Se tristeza é o que eu sinto agora, vou senti-la enquanto ela canta pra mim:
"I wanna put my hands around you, squeeze you and hold you tight. I wanna stroke you with my fingers...." "...I wanna touch you right here, come on and touch me right there. I wanna 
squeeze you baby, oh you know all I wanna do to you! Embraceable you u u ..."

Eu venho aprendendo que intensidade é para os corajosos. 
Ou estúpidos insanos, who knows???









sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Trash

 No lixo. 
É onde a gente joga as coisas que não tem significância para nós. É onde a gente deposita o resto, o inútil, aquilo que perdeu valor.
É também onde ficam as coisas que queremos esquecer, apagar, tornar inexistentes. 
O lixo é o lugar pra onde se muda o amor no instante em que você decide que ele não serve mais pra você. 


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

She knows.

Você sabe o que é sentir saudades de uma pessoa o tempo inteiro? Ela sabe.
Por ser algo que não se deve sentir, questiona-se.
Questiona se o que sente é mentira, se é uma fantasia ou se aquele homem foi inventado por sua mente. Procura motivos que evidenciem isso. Não os encontra.
Uma a duas vezes por dia o desespero bate forte e ela chora sem pudores. Os vizinhos devem pensar que alguém morreu, e eles estão certos. Talvez de tanto passar as mãos nos olhos enxugando-os, é que um deles parece ter sido irrigado de sangue e agora produz muco que durante a noite grudam seus cílios um nos outros. Conjuntivite?  "Compre colírio" - orienta sua mãe -  quem dera houvesse-lhe ânimo de deixar as cobertas.
Ela gosta do olho doente, ele lhe lembra shampoos ácidos que quase arrancam um olho fora em contato com eles.
Uma a duas vezes por dia ela não consegue mais enganar-se e a dor para pra ser sentida. Ela sabe exatamente o que perdeu, e dói mais ainda porque era o certo a ser feito. Dói querer ser a pessoa mais errada desse mundo.
Ela sabe que causou isso a si mesma, e que precisa explorar as fragilidades de seu coração que a colocaram em situações que claramente terminariam com rejeição e agora indiferença. E é quando mais se culpa que se consola. Jamais inventou este homem, e ele lhe seria em qualquer instante da vida completamente irresistível. Saiu de casa pra comprar bobeiras, recebeu 3 cantadas na rua. Ninguém reparou a tristeza em seus olhos, para a grande maioria ela é só um pedaço de carne. Pela primeira vez alguém a enxergou e soube lhe conquistar as barreiras, conquistou-lhe o corpo, o coração, os olhos, a confiança. Ela sente sua falta.
"Mal nos conhecemos! Você nem sabe quem eu sou!" - uma das 5 ou 6 frases que mais doeram.
Ela pensa consigo mesma: "You know me, and I know you". Ela conhece as suas necessidades, as carências, sua gana de ser mais do que o suficiente. Ela sabe que não come mortadela e nem salsicha, e pro resto das comidas é sem frescura. Sabe que tem espasmos pra dormir, ama cinema e não é muito chegado em doces. Conhece o seu gosto e o desgosto pra música, os instrumentos que toca, as dores da infância, a vontade de ter recebido mais afeto materno, o que te aborrece, o que te alegra, e conhece sua maneira idêntica à dela de responder "quer sair?" com "quer", "gosta de ovo" com "gosta" - quem conjuga os verbos errados além de vocês?
Conhece também seu temor à Deus, seu coração grato e quebrantado, sua disposição em servir, que você gostaria de participar do Mercy Ships.
Ela sabe que você só conhece 5 cores, nunca acerta um endereço de primeira, é simples, tranquilo e dedicado a ser perfeito profissionalmente. Sabe da sua honestidade, do seu desapego ao que é material, da incapacidade de combinar roupas. Sabe que jamais faria uma série de coisas por não serem "coisas de macho". Sabe da educação com que trata todas as pessoas e que és generoso o suficiente para pagar uma refeição à um sem-teto. Ela sabe do teu vício por esportes, do tanto que aprecia manjericão - no macarrão e na pizza com frango., que coca zero é mais importante que água pra você.  Ela sabe que você prefere inglês e se orgulha de conhecer um pouco sobre vinhos, sabe que ama viajar e de levar adiante ideias malucas. Ela sabe da sensibilidade do seu coração, que não tens dificuldade em desculpar-se, e te enxerga como um oásis no deserto. Ela sabe que jogando bola suas unhas do pé ficam pretas, que você quer ter muitos filhos, que gosta de cupuaçu. Ela sabe que vermelho é a sua cor favorita, e que você nunca assistiu Se Beber não Case 3. Ela sabe que gestos pequenos te conquistam, que carinho te quebranta e que palavras te são a melhor linguagem de amor. Ela ouviu com absoluta atenção tudo o que você disse, ela sabe sim quem você é. Não tire isso dela.
E é por saber que sofre.
Ela sabe que nunca teve a melhor pessoa que já conheceu na vida. Ela o conhece.
Ela SABE quem você é. 


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Tudo e nada.

Nós temos tudo. Nós temos calor, paixão, fogo e desejo. Nós temos assuntos que não acabam, força de vontade de contar histórias passadas e um interesse sem fim um pelo outro. Nós nos olhamos só pelo prazer  de olhar, suspiramos por pensar demais, suspiramos por achar que gostamos demais, suspiramos de saudade.
Nós somos tudo. Tudo que sempre sonhamos; a aparente resposta pra questão secreta do nosso coração: "Será que um dia encontrarei uma pessoa que realmente atenda às minhas necessidades?" Sim. Tudo que você sempre achou que quis agora está aqui e de bandeja. Somos tudo e somos mais um pouco. Eu te vejo; desarmo suas pretensões e ofereço todas as palavras que sou capaz de unir, ofereço meu suporte e a minha amizade. Você me lê. Me sinto um livro cada vez mais explorado e entendido, cujas charadas são desvendadas antes do esperado.
Sentimos tudo. Identificação, alegria, entrega, intensidades, felicidade, medo, angústia, receios, amor, confiança.
Nós queremos tudo. O simples, o detalhe, o cotidiano. A realidade não paralela mas verdadeira. Café da manhã, dormir junto, viagens, risos, almejamos o resto de nossas vidas.
Temos, somos, sentimos e queremos tudo.
Exceto pelo fato de que também somos nada.
É quando reparamos que não enfrentamos nada. Que esperamos um tempo oportuno que nunca será oportuno (ou adequado). Sustentamos o adiar um do outro e deixamos pra depois de amanhã o que deveria ter sido feito semanas atrás. Tudo significa nada se aquilo que você reconhece como muito importante para a sua vida não pode ser vivido de verdade.

Eu perdi o tudo, porque ele era nada perante o mundo real. Eu queria tudo de volta.

Quero gritar.

Leee John suavemente arranca meu coração e o estraçalha. 
Quero gritar. Quero ver se, caso eu grite, tudo que eu sinto é posto pra fora de mim. Alguém conseguiu por em explicações científicas essa dor que se sente na alma e estende-se pro físico? Alguém explica porque eu não consigo comer de jeito nenhum?
Mesmo com todo pessimismo do mundo, ele não te prepara para esse pior esperado. O chão sai dos seus pés, todas as lágrimas do planeta água saem dos seus olhos, e seu coração reclama atenção, doendo a cada sístole, sangrando a cada diástole. 
O pior de tudo é ter que continuar. É saber que não existe nada que eu possa dizer ou fazer. Juntar todas as coisas e jogar fora é só um símbolo inútil, eu que guardo recordações de tudo já acho o suficiente a marca que isso deixará no meu coração. Sou palavra, fui arrematada por elas, e eu sei, verdadeiras eram. 
Quero dormir. Mas quero não acordar a cada hora. Quero não sonhar e acordar pra perceber que eu criei um novo momento entre nós. 
Quero descobrir onde está essa tal decisão que eu preciso tomar pra 'não sofrer'. Não consigo enxergar dessa maneira. Dói, dói, dói, até o dia que a dor fica impregnada ao ponto de não incomodar tanto.
Quero evitar inglês, o sorvete Haagen, todos os lugares que fui. Quero mudar de cidade, de memória, de coração. 
O que perdi pra mim é muito maior do que eu pensei. O tanto que eu queria é muito maior do que eu supus, e agora o tanto que eu sofro é do mesmo tanto que eu amo, incondicionalmente. 
Sinto medo. 
Quanto tempo até passar? 
Saudade. A saudade da minha vida.
Quero gritar.