sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os olhos azuis/verdes/cinzas/todas as cores do mundo


Um dia cansativo.
Cumprir as obrigações deixa um gostinho na alma de satisfação, mas também traz uma fadiga dos infernos. Voltar pra casa depois de um dia desses é no mínimo estressante, rotineiro demais pra mim que odeio rotinas, repetições eternas, embora seja uma desajustada cheia de manias. Desço a Avenida Comercial, passo pela Samdu e espero o sinal fechar. Ouço música, repasso mentalmente meu dia, e me dou por satisfeita de ter feito ao menos um pouco daquilo que é necessário para os próximos longos dias de dedicação. Eu olho em direção à parda de ônibus, preocupada se vou conseguir sentar. Preocupada se o ônibus vai demorar a passar.Você está logo ao lado, olhando em minha direção. Hipnotizada. Eu me movimento totalmente estática por dentro. Seus olhos azuis/verdes/cinzas/todas as cores do mundo me engolem, me sugam pra dentro de você, possuem um tom tão enigmático. Tua pele branquinha me encanta. Sua blusa bege só faz deixar você mais sereno. Eu me sento ao “teu lado”, mexo na bolsa, e olho pra você.


E você está lá, me olhando de novo, como se conhecesse cada mínimo detalhe da minha vida, da minha personalidade, das minhas manias estranhas. “eu não sei parar de te olhar...”


Mas aí eu paro, porque eu fico extremamente sem graça. Do jeito que eu sempre fico em situações assim, com todo o rubor do mundo na minha face. O meu ônibus chega... Nunca tão rápido em mil anos... Me levanto, e entro. De lá olho pra você e você me sorri com toda a sua alma, aí já não consigo mais, te jogo o sorriso que estava preso nos dentes da minha timidez. Eu me sento, e ironia ou não, o ônibus fica uns 3 minutos parado, mais uma vez nós, lado a lado.


Te olho de novo, e sinto novamente a sensação de hipnotismo. Um arrepio, um tremor por dentro, um dilúvio. O ônibus parte, e eu te acompanho até onde meus olhos alcançam.
Rapidamente eu mentalizo o desejo de um dia te ver de novo, me apegando à minha sorte de sempre desejar algo, e mais dia, ou menos dia, me deparar com aquele desejo nas minhas mãos.
Chego rápido em casa, pois o tempo sempre passa rápido quando eu fantasio. Passei todos os minutos até agora, pensando na infinidade de coisas que eu podia ter feito e não fiz. Podia ter anotado meu número e jogado no teu colo malandramente enquanto entrava no ônibus... Podia ter sido simples e puxado papo... Podia ter anotado o número bem grande na folha em branco que eu tinha na minha pasta e colado ela na janela, para que você copiasse... Ia ser bem romântico, hehe. Ou poderia descer do ônibus e ir lá conversar com você e te contar tudo o que você me causou em 10 minutos. Eu sempre me sinto assim, crucificada, quando deixo de ter a petulância que sempre tenho para tantas outras coisas, e para o amor não.


Amor? Tá louca?


Não era amor, mas foi hipnótico, assim como o amor o é. Eu só não sei se foram os meus olhos que quiseram ser hipnotizados como nunca foram. Não sei se está nos meus olhos, ou nos seus.


Mas eu sei que se fossem quaisquer outros olhos, do outro lado da rua olhariam em direção à parada de ônibus, e veriam um paraplégico, talvez bonito sim, mas ainda sim um paraplégico.


Eu não sei onde você está agora. Eu só sei que te olhei além da sua condição, sem nem saber o porquê disso. Esse texto é pra você, cujo os olhos azuis/verdes/cinzas/todas as cores do mundo me hipnotizaram ao ponto de querer estar entre eles o resto da minha vida.


Não é amor, mas é hipnótico... assim como o amor o é...



2 comentários: