domingo, 9 de fevereiro de 2014

Case-se com um homem que...

Case-se com um homem que deite no seu colo, de um jeito meio largado, meio descompensado, meio de quem pede ajuda porque o chefe é um mala e as coisas só dão certo porque ele tem você no fim do dia. Não escolha alguém que faz tudo por você, que vive por você, que atende todos os seus caprichos. Sabe por quê? Porque um cara desses deixaria de ser dele pra ser seu, se esqueceria da vida dele pra viver a sua e, cá entre nós, você quer somar, não é? Ou quer alguém que viva por você, não com você? Por isso mesmo é que você deve se casar com alguém que traga um novo mundo pra juntar ao seu e que te mostre como os seus planetas ainda podem ser desalinhados de uma forma bonita.Case-se com um homem que te desperte. Da cama, do medo, dos pesadelos. Que te beije na testa com ternura e faça cafuné, mesmo sabendo que você odeia que enrolem o seu cabelo. Um homem desses que despenteiam, desses que deixam uma bagunça gostosa no meio campo. Queira um homem, um cara, um rapaz, seja lá o seu termo preferido, que tenha um olhar que não te atravesse. Alguém que vai olhar pra você e ver quem você é, sem construções idealizadas ou suposições construídas na fantasia. Sem olhares que atravessam e se desviam, que não encontram os seus olhos e caminham pelo seu corpo. Escolha os olhos daquele que sustenta o mundo quando te olha. Ele tem que ser forte, e talvez a força dele seja essa de te ajudar a dividir o peso do mundo nas costas, de te ligar no almoço pra dizer que te ama e que nunca se esqueceu de ti.Queira um cara que vá se emocionar quando vê-la entrando na igreja. E que se emocione com você de pijama acordando. Que te ache linda independente do seu manequim e que se orgulhe de você pelas suas conquistas do dia a dia, até aquelas pequenininhas como conseguir passar do primeiro dia da dieta. Case-se com um homem que vá rir de você quando você fizer um escândalo por ter quebrado a unha ou por ter furado o dedo pregando um quadro na parede. Ele tem que ser do tipo que sabe que você não precisa dele, e por isso mesmo que fica. Fica e vai ficando, vai se alojando no sofá, vai deixando a escova de dentes e quando você for ver, ele vai ter aprendido alguma receita no Google pra tentar te impressionar. Valorize um homem pelo esforço dele, não só pelo resultado final. Você vai perceber que um homem que se esforça pra te ver feliz é um homem que vale mais do que qualquer Encantado que a Disney tentou te vender como homem perfeito. Desconfie de um cara sem defeitos. E aprenda: tipos perfeitos como os dos livros infantis não existem. O que existe são homens que, ao seu modo, conquistam você e fazem pender a balança pro lado das qualidades, enquanto você aprende a lidar com os defeitos.Deseje um guri que seja louco. Não por você, mas pela vida. Gente louca pela vida gosta de explorar o mundo, a cidade, a rua de cima, o novo restaurante japonês da Liberdade e tudo mais. Gente que é louca pela vida entende bem de liberdade, companheirismo, amizade e todos esses sentimentos que só quem gosta de viver entende. Além disso, te garanto que gente assim tem um ótimo papo. Daqueles que não contam vantagem e ainda desenham na sua cabeça as cenas todas que alguém com muita paixão já viveu. Daqueles que fazem você se apaixonar sempre que falam da forma com que o mundo deles mudou desde que você chegou.Por fim, mas não menos importante, case-se com um homem que te ame em detalhes. Nos cartões das flores, na careta da selfie, na camisa cafona que a sua mãe deu de presente, na vez em que ele percebeu que você tinha cortado o cabelo antes de você falar, nos pedidos de comida às duas da madrugada quando ele percebe que você tá morrendo de fome e cagou pra dieta, no anti-alérgico que ele carrega na carteira caso você precise.  Case-se com quem te faça sentir que esse texto é pouco pra falar dele e te faça vontade de continuar a escrevê-lo, mesmo que você não seja lá muito boa com palavras, mesmo que você só saiba definir o que sente por ele como amor.
Daniel Oliveira 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Saudade


Toda despedida
Uma hora
Se calça e fica
E quando ameaça
Sair de novo,
Se calcifica

Toda despedida 
uma hora 
se cansa e fica 
fixa
grudada na sola do sapato
na gola da camisa
na mola do coração
no gozo do ato
E se demora
Até criar enjoo,
Ânsia de vou-me to-
-do.
E se lamenta:
poderia ter ficado feliz ou bem puto
poderia ter ido vivão ou de luto

Saudade é essa coisa petrificada no peito
Que amolece toda vez que a vida nos lembra:
Saudade não existe; 
é medo de partir pra outra...

saudade?

[petrificada; antônio]

Lágrimas

Você seria mais feliz se sorrisse com a sua alegria? Se não dependesse da minha boca para gritar eu te amo, gargalhar eu te amo, soluçar eu te amo, deixar eu te amo ecoar pelos quatro prantos do mundo?

Você seria mais feliz se não precisasse dos meus dentes para arrancar sua dor, se não dependesse dos meus versos para acalmar a folha em pranto, se não precisasse dos meus dedos para fincar sua alegria nesses lábios finos, e deixar as lágrimas engrossarem pros lábios de lá?

Lágrimas
Lágrimas
Lágrimas
Lágrimas


Lágrimas,
Eu seria mais fraca ou talvez menos franca se aceitasse o seu amor como amor e não como pranto. Você nunca me amou. Nunca. “Nunca diga nunca” nunca funcionou. Não funciona para quem vive de poesia. Eu acredito no impossível e nessas coisas que você chama de milagre. Eu sobrevivi a vários milagres: suportar tua ausência é um milagre, secar mil lágrimas é um milagre, viver de poesia é um milagre, um poeta é um milagre, o amor… não!

Amor é acontecimento: é o que sobra depois de todo esquecimento. Queria que ele coubesse no que eu vejo em você. Queria que ele soubesse que eu acredito em você. E que você sorrisse todas as manhãs como se quisesse me encontrar todas as noites; e à tardinha também. Dizer que me ama ao som de Leee John, jurar que me quer ao ler meus textos. E não só risse para afastar o desespero. E não sorrisse para fingir que o amor te alegra. E não sumisse por temer o que te espera. E assumisse que o que já fomos, já era. E na mesmice dos nossos desencontros, eu me encontro completamente indiferente ao que você sente… Em vão… Em vão… Em vão… Pra onde vão os nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?

Queria que você se sentisse divinamente desumano e um pouco menos culpado. Eu prefiro encontrá-lo mil vezes no desespero de quem ri sozinha em medo e pranto; e amá-lo, assim, para sempre e tanto.

[um retrato em medo e pranto; antônio, adaptado]