sábado, 1 de março de 2014

Hi.

O que você quer que eu diga? 

O que você espera que eu sinta?
Quer que eu diga que tudo não passou de ilusão, que cada palavra dita por mim foi mero calor de momento, que deixar tudo para trás foi fácil e que a vida continuou?
Digo. Digo que nunca foi ilusão. E que cada palavra dita quis ser dita porque de fato significava algo. Significou. Significa. Em qual tempo verbal se conjuga a morte de um futuro? Digo também que o calor do momento passou, e que agora o meu peito possui terrenos árticos. Bem sabemos que quando um tronco é afastado de uma fogueira ele esmorece até virar brasa, cinzas. Digo que deixar tudo para trás depende do conceito que se adota. Se deixar tudo para trás significa ter esquecido, não pensar mais sobre, não chorar por, não sonhar com, não sentir falta... então tudo está bastante à minha frente, tatuado na minha cara. Mas se deixar pra trás é discar seu número e não apertar 'ligar', se significa impedir o papo sobre você de continuar, se deixar pra trás é engolir em seco as minhas lágrimas escassas, então atrás estamos, estás. Digo também que a vida continuou. A sua não? A sua, principalmente.  O sol continua nascendo e se pondo. A chuva cai e então seca. Os dias passam, celebramos semanas, mês de separação. O coração é anestesiado pelo santo remédio do tempo e nossas crenças nos motivam a vencer mais um dia. A vida segue. Os compromissos não se adiam, pessoas esperam retorno, resultado de todo o seu investimento em nós. A vida continua, aparentemente. 
Sozinha no banho eu me encosto no box e sinto a descontinuidade da minha existência. Com a cabeça no travesseiro imagino seu cheiro e o som da sua voz. Imagino se o que ainda mais gosta em mim é que, que eu explico tu-do. Na solidão do meu peito nada continuou, mas eu me continuei. Levantei pra seguir a vida, me ergui pra viver o que me era ofertado. 

Você espera que eu sinta o que? 

Espera que todas as minhas alegrias sejam genuínas, espera que eu me sinta livre, leve e solta das amarras do passado? Espera que eu consiga recuperar tudo que se feriu com escolhas excludentes? Você espera que meu coração se sinta pleno para amar em vez de obrigado a ser amado? Você espera que eu consiga me sentir inteira de novo, sem sentir tanta saudade do nosso tudo?
Você espera que eu sinta que te esqueci?

Eu também espero tudo isso para mim. Principalmente porque tudo isso ocorreu pra você. 
Reciprocidade era a nossa sina, né?
O que você espera que eu diga?
O que você quer que eu diga?

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Case-se com um homem que...

Case-se com um homem que deite no seu colo, de um jeito meio largado, meio descompensado, meio de quem pede ajuda porque o chefe é um mala e as coisas só dão certo porque ele tem você no fim do dia. Não escolha alguém que faz tudo por você, que vive por você, que atende todos os seus caprichos. Sabe por quê? Porque um cara desses deixaria de ser dele pra ser seu, se esqueceria da vida dele pra viver a sua e, cá entre nós, você quer somar, não é? Ou quer alguém que viva por você, não com você? Por isso mesmo é que você deve se casar com alguém que traga um novo mundo pra juntar ao seu e que te mostre como os seus planetas ainda podem ser desalinhados de uma forma bonita.Case-se com um homem que te desperte. Da cama, do medo, dos pesadelos. Que te beije na testa com ternura e faça cafuné, mesmo sabendo que você odeia que enrolem o seu cabelo. Um homem desses que despenteiam, desses que deixam uma bagunça gostosa no meio campo. Queira um homem, um cara, um rapaz, seja lá o seu termo preferido, que tenha um olhar que não te atravesse. Alguém que vai olhar pra você e ver quem você é, sem construções idealizadas ou suposições construídas na fantasia. Sem olhares que atravessam e se desviam, que não encontram os seus olhos e caminham pelo seu corpo. Escolha os olhos daquele que sustenta o mundo quando te olha. Ele tem que ser forte, e talvez a força dele seja essa de te ajudar a dividir o peso do mundo nas costas, de te ligar no almoço pra dizer que te ama e que nunca se esqueceu de ti.Queira um cara que vá se emocionar quando vê-la entrando na igreja. E que se emocione com você de pijama acordando. Que te ache linda independente do seu manequim e que se orgulhe de você pelas suas conquistas do dia a dia, até aquelas pequenininhas como conseguir passar do primeiro dia da dieta. Case-se com um homem que vá rir de você quando você fizer um escândalo por ter quebrado a unha ou por ter furado o dedo pregando um quadro na parede. Ele tem que ser do tipo que sabe que você não precisa dele, e por isso mesmo que fica. Fica e vai ficando, vai se alojando no sofá, vai deixando a escova de dentes e quando você for ver, ele vai ter aprendido alguma receita no Google pra tentar te impressionar. Valorize um homem pelo esforço dele, não só pelo resultado final. Você vai perceber que um homem que se esforça pra te ver feliz é um homem que vale mais do que qualquer Encantado que a Disney tentou te vender como homem perfeito. Desconfie de um cara sem defeitos. E aprenda: tipos perfeitos como os dos livros infantis não existem. O que existe são homens que, ao seu modo, conquistam você e fazem pender a balança pro lado das qualidades, enquanto você aprende a lidar com os defeitos.Deseje um guri que seja louco. Não por você, mas pela vida. Gente louca pela vida gosta de explorar o mundo, a cidade, a rua de cima, o novo restaurante japonês da Liberdade e tudo mais. Gente que é louca pela vida entende bem de liberdade, companheirismo, amizade e todos esses sentimentos que só quem gosta de viver entende. Além disso, te garanto que gente assim tem um ótimo papo. Daqueles que não contam vantagem e ainda desenham na sua cabeça as cenas todas que alguém com muita paixão já viveu. Daqueles que fazem você se apaixonar sempre que falam da forma com que o mundo deles mudou desde que você chegou.Por fim, mas não menos importante, case-se com um homem que te ame em detalhes. Nos cartões das flores, na careta da selfie, na camisa cafona que a sua mãe deu de presente, na vez em que ele percebeu que você tinha cortado o cabelo antes de você falar, nos pedidos de comida às duas da madrugada quando ele percebe que você tá morrendo de fome e cagou pra dieta, no anti-alérgico que ele carrega na carteira caso você precise.  Case-se com quem te faça sentir que esse texto é pouco pra falar dele e te faça vontade de continuar a escrevê-lo, mesmo que você não seja lá muito boa com palavras, mesmo que você só saiba definir o que sente por ele como amor.
Daniel Oliveira 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Saudade


Toda despedida
Uma hora
Se calça e fica
E quando ameaça
Sair de novo,
Se calcifica

Toda despedida 
uma hora 
se cansa e fica 
fixa
grudada na sola do sapato
na gola da camisa
na mola do coração
no gozo do ato
E se demora
Até criar enjoo,
Ânsia de vou-me to-
-do.
E se lamenta:
poderia ter ficado feliz ou bem puto
poderia ter ido vivão ou de luto

Saudade é essa coisa petrificada no peito
Que amolece toda vez que a vida nos lembra:
Saudade não existe; 
é medo de partir pra outra...

saudade?

[petrificada; antônio]

Lágrimas

Você seria mais feliz se sorrisse com a sua alegria? Se não dependesse da minha boca para gritar eu te amo, gargalhar eu te amo, soluçar eu te amo, deixar eu te amo ecoar pelos quatro prantos do mundo?

Você seria mais feliz se não precisasse dos meus dentes para arrancar sua dor, se não dependesse dos meus versos para acalmar a folha em pranto, se não precisasse dos meus dedos para fincar sua alegria nesses lábios finos, e deixar as lágrimas engrossarem pros lábios de lá?

Lágrimas
Lágrimas
Lágrimas
Lágrimas


Lágrimas,
Eu seria mais fraca ou talvez menos franca se aceitasse o seu amor como amor e não como pranto. Você nunca me amou. Nunca. “Nunca diga nunca” nunca funcionou. Não funciona para quem vive de poesia. Eu acredito no impossível e nessas coisas que você chama de milagre. Eu sobrevivi a vários milagres: suportar tua ausência é um milagre, secar mil lágrimas é um milagre, viver de poesia é um milagre, um poeta é um milagre, o amor… não!

Amor é acontecimento: é o que sobra depois de todo esquecimento. Queria que ele coubesse no que eu vejo em você. Queria que ele soubesse que eu acredito em você. E que você sorrisse todas as manhãs como se quisesse me encontrar todas as noites; e à tardinha também. Dizer que me ama ao som de Leee John, jurar que me quer ao ler meus textos. E não só risse para afastar o desespero. E não sorrisse para fingir que o amor te alegra. E não sumisse por temer o que te espera. E assumisse que o que já fomos, já era. E na mesmice dos nossos desencontros, eu me encontro completamente indiferente ao que você sente… Em vão… Em vão… Em vão… Pra onde vão os nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?

Queria que você se sentisse divinamente desumano e um pouco menos culpado. Eu prefiro encontrá-lo mil vezes no desespero de quem ri sozinha em medo e pranto; e amá-lo, assim, para sempre e tanto.

[um retrato em medo e pranto; antônio, adaptado]

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cornerstone


Tell me where's your hiding place
I'm worried I'll forget your face
And I've asked everyone
I'm beginning to think I imagined you all along


I am hurt. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O átomo da saudade

Você olha pra um lado, e pro outro. Se bobiarem você perde uns bons longos minutos parado, olhando pro nada. Esquece-se das pessoas ao redor. Suspira. Tenta descobrir a origem do desconforto - se estômago ou coração, ou talvez seja nas costas - e de novo, olha pros dois lados. Suspira. A cabeça dói. Tensão nas têmporas.Tem algo dentro de você.
É tudo muito confuso e por breves instantes você quase se esquece, as vezes parece até que não dói,  embora também não deixe de existir, está ali, ocupando bastante espaço. É pesado. É muito pesado.
Tem hora que te acorda à noite, agitando-se dentro de ti. Em outros momentos captura sua imaginação e te leva pra longe para degustar realidades que gostaria de viver e que sabe que viveria, bastava o cenário adequado. Outrora te engana e volta a doer, e dói direitinho. Sabe tirar sua fome, seu sono ou a risada que você ia dar mas desistiu; é que sorrir também parece ilegítimo, forjado, perde a graça sorrir quando se está tão fadigado.
Tu olhas pra baixo, coloca a mão no peito e aperta. Engole em seco. Sem sombra de dúvidas o coração acelera só de pensar em mais um dia com aquilo, mas aquilo - isto - oque????  

Você dá um sorrisinho e conclui: Dalton estava certo esse tempo todo. 
Aquilo que ocupa teu peito é um grande átomo maciço, indivisível, indestrutível e permanente. 
Esse incômodo no teu peito é saudade. Esse peso, essa angústia, essa tua ansiedade, a pressa de ter algum alívio, é a urgência dessa esfera maciça e gorda por atenção.
Do que sentes falta, criatura? Pelo o quê teu peito reclama tanto? 
Tu achas que matas de fome aquilo que é alimentado justamente pela ausência? Como combater o que nunca dorme em teu estômago? As imagens que não cessam em sua memória, ou o sentimento que não desaparece em seu coração? 
Desde quando fingir que não existe é esquecer e não falar sobre é não pensar? Desde quando é suficiente ser mais ou menos entendido e quase satisfeito? A partir de que momento tudo passou a ser nada, e matade virou inteiro?

A gente sente saudade daquilo que experimentou o suficiente pra querer sempre mais, pra querer tudo e o tempo todo.
A saudade é maciça, quase palpável.
A saudade é indivisível, tu a sente inteira.
A saudade é indestrutível, só some saciada.
A saudade é permanente, do tamanho da ausência daquele que amamos.
Todos os dias viraram dias mundiais da saudade, maciça, permanente, indestrutível.

Dalton estava certo esse tempo todo.






quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Singularidades

Música pra ouvir enquanto lê (obrigatório)


               A maneira de olhar e franzir as sobrancelhas. A cor desses olhos que te olham. O jeito de andar. O som do sorriso, o jeito que as covinhas se formam, os dentes e o formato da boca. O vício de morder os lábios, ou "cabucar-se". 
               O cheiro do perfume na pele, o cheiro do suor dessa pele e o cheiro da respiração - SIM, sai um aroma único de nossos narizes. Os lugares em que sente cócegas ou prazer. As posições em que dorme, o ritual do banho, o ritual para escovar os dentes. As pequenas implicâncias.
A voz. Essa voz quando brinca, quando chora, quando seduz, quando se declara, quando vai partir o seu coração. O gosto do beijo, a textura da língua e dos lábios. As mordidas que dá quando te beija. A maneira que te toca, e a forma como seu corpo reage à isso. A forma como te massageia as têmporas e busca aliviar suas tensões. O jeito que opta por uma escada de incêndio. 
               A conversa íntima entre ferormônios e a química inexplicável. Os sonhos que possui, os gostos por música, por filmes ou artes. As coisas que acha engraçadas. As manias únicas, os detalhes e cicatrizes. A forma como entende o mundo e se faz ser entendido por ele. O jeito que dirige, que segura o volante, ou que recosta a cabeça no banco para ouvir música. As mãos, os caminhos que essas mãos fazem e o proteção que podem fazer sentir. O abraço.
              O modo como te trata, te enxerga, te sente, te ama. Os defeitos que releva, que aceita ou que nem vê. As qualidades que exalta, que aprecia e outras mais que ninguém mais notou, só você. A maneira como abraça o seu coração e o leva a boiar no peito, te faz flutuar na vida, desafiando qualquer gravidade e te colocando no espaço - o espaço de vocês - a bolha
              A expressão quando se preocupa, quando sente medo, quando te quer, quando vai te deixar. O senso de humor, a inteligência, a sagacidade. O jeito quieto ou insano. Aventureiro ou sossegado. O jeito que passa brigadeiro no nariz ou trupica mas não cai na calçada. A entrega, a força, o companheirismo, o apoio, o detalhismo. O amor que oferece, o carinho que doa, os ouvidos que disponibiliza. As chuvas que não se preocupa em tomar. O jeito que faz você se sentir melhor, mais, incrível.
              Ah! Os seres humanos, a vida, as nossas experiências! Quem dera pudéssemos compactar tudo e arquivar, ou encontrar disponível em prateleiras compostos que adicionassem coisas que amamos nas pessoas que convivemos. Utopia! Besteira! 
              Cada pessoa é absolutamente única. Não podemos copiar os trejeitos de ninguém, ou projetar uma pessoa em outra. É impossível substituir, repor, compensar.  E ainda que duas pessoas - sei lá - lambam o prato exatamente da mesma maneira, isso ainda será totalmente diferente aos olhos do mesmo expectador. Não existe o melhor e o pior, existe o jeito singular e próprio de cada um, o mesmo que nos encanta, nos apaixona, nos enfurece ou nos desperta. Ninguém é comparável a ninguém, e não podemos apagar as marcas que as maneiras de alguém imprimem em nossa mente, nos corredores da nossa memória, nos lugares secretos do nosso coração.
               E no fim das contas, você é, você quer e você ama aquilo e aquele(a) de quem você se lembra antes de dormir. 
Jéssica Almeida.